A publicação do edital da Polícia Federal nesta semana — que anuncia 1.000 vagas distribuídas entre delegado (120), perito criminal (69), agente (630), escrivão (160) e papiloscopista (21) — pode soar, à primeira vista, como grande reforço de efetivo. Mas, para o Sindicato dos Policiais Federais no Estado de São Paulo (SINPF/SP), o certame não passa de curativo em ferida aberta: o quadro nacional segue limitado com 12,6 mil policiais, insuficientes para missões cada vez mais complexas — da vigilância dos 17.000 quilômetros de fronteira ao controle de armamentos de CACs, sem falar na proteção crescente a autoridades e aumento nas demandas em aeroportos internacionais.
“São Paulo, por exemplo, opera muito abaixo do necessário. Diante da sofisticação das investigações e da carga de trabalho, precisaríamos dobrar o efetivo”, adverte a presidente do SINPF/SP, Susanna do Val Moore.
A dirigente destaca ainda que, além da defasagem histórica, o estado perde servidores em ritmo constante para remoções a outras regiões, sem que novos concursos consigam repor as baixas. O quadro é dramático no Aeroporto Internacional de Guarulhos: lá, cada servidor da PF responde, em média, por 400.000 movimentações internacionais anuais. Para efeito de comparação, no Galeão — com efetivo semelhante — o índice cai para 121.410 atendimentos por agente. A sobrecarga é evidente e insustentável por aqui.
“Oferecer apenas 160 vagas para escrivães é irrisório. Esse número, quando distribuído por todo o país, não cobre sequer as vacâncias deixadas por aqueles que estão saindo para outros concursos — muito menos supre a defasagem já existente”, afirma Marcelo Varela, diretor de comunicação do SINPF/SP.
Ralo de talentos: evasão quintuplicada em seis anos
O concurso tampouco repõe as perdas acumuladas por aposentadorias, falecimentos e migração para outras carreiras públicas. No caso de migrações e exonerações, o Painel Estatístico de Pessoal do governo federal revela que, em 2024, 80 policiais federais deixaram a instituição, seja por pedido de exoneração, seja para assumir outro cargo público não acumulável. Esse número representa um aumento significativo, sendo quase cinco vezes maior que o registrado em 2018, segundo o mesmo painel. Cada desligamento implica desperdício de recursos públicos investidos na formação policial na Academia Nacional de Polícia, além de impactar negativamente a capacidade investigativa da instituição.
E a sangria não dá sinais de trégua. Neste primeiro semestre do ano, cerca de 40 agentes, escrivães e papiloscopistas acabam de ser aprovados no concurso para auditor-fiscal do trabalho e tendem a deixar a PF. Motivos não faltam: salários aquém de carreiras equivalentes de nível superior no Executivo, ausência de plano de carreira estruturado, déficit previdenciário e insegurança jurídica no exercício das funções, dentre outras razões.
O SINPF/SP defende remuneração compatível com as atribuições e responsabilidades do cargo e das competências da PF, aprovação de uma Lei Orgânica da PF construída com a real participação da base, um marco legal há décadas prometido, garantia de espaço justo na PEC da Segurança Pública, em tramitação no Congresso, e recomposição e ampliação do efetivo, com concursos recorrentes, não episódicos, além de medidas imediatas na recomposição do efetivo do estado de São Paulo, com o envio de contingente extra que compense tanto as aposentadorias quanto as remoções para outros estados, pois os concursos, sozinhos, já não cobrem o rombo.
Sem essas ações, alerta o SINPF/SP, o país continuará apostando em paliativos enquanto a criminalidade ganha terreno.
Para entrevista ou informações adicionais, contate a comunicação do SINPF/SP
Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.